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Dica de Livro: "Desconcertos", de Ricardo Tagliaferro


Bibliófilo, sujeito que lê com muita frequência*, não é uma figura difícil de ser encontrada. Pessoalmente, conheço alguns legítimos exemplares desta "categoria" e, eu mesma, poderia até ousar me enquadrar nesse rol, com minha modesta biblioteca de algumas centenas de livros e após ter lido outras centenas. 

O fato é que quanto mais lemos, mais críticos nos tornamos em relação à qualidade dos textos que chegam às nossas mãos. Com o tempo, acabamos, também, por desenvolver uma predileção por este ou aquele gênero, este ou aquele tipo de narrativa. E, embora eu aprecie, vez ou outra, uma leitura leve, na maioria das vezes prefiro os livros que me desestruturam, que são capazes de me retirar, mesmo que aos pulsos, da minha zona de conforto cognitiva. Desse modo, estou quase sempre em uma expectativa semelhante ao autor Franz Kafka, enquanto leitor, quando defendia que "um livro tem de ser o machado que rompe o oceano congelado que habita dentro de nós".

O livro Desconcertos, de Ricardo Tagliaferro, é uma dessas obras que cumpre o que seu título promete; desconcertar-nos com suas histórias imprevisíveis e fortes, como um soco no estômago.

Trata-se de uma coletânea de vinte e um contos, histórias fictícias que carregam a verdade incontestável de que a vida é o resultado complexo das nossas infinitas escolhas.

Todos os contos me fizeram refletir, mas dois, em especial, despertaram, em mim, bem mais do que eu poderia imaginar. 

Em "Tarde", a proposta é enxergar presente e futuro através das ações ou omissões permitidas pelo nosso livre arbítrio, tornando-se impossível não traçar um forte paralelo com nosso próprio destino. E a pergunta que salta e incomoda é: E se? E se não tivesse aceitado aquele emprego, e se tivesse ido morar em outro pais, e se tivesse lutado, até o fim, por aquele grande amor?

Já em "O Boticário", aprendi o quanto a vida pode ser injusta, independente da nossa melhor intenção. Nossas ações podem ser traduzidas de forma errônea e o julgamento apressado costuma reduzir a pó o que poderia ser um grande progresso.

De modo geral, a obra promove essa reflexão sobre a vida, que é cheia de incertezas e é isso que faz dela algo tão precioso. Pois, como dizia Helen Keller, "a vida é uma aventura audaciosa, ou não é nada".

*Dependendo da fonte, podemos encontrar outras definições para bibliófilo, como amante dos livros, colecionador de livros, etc.

Sobre o autor:

Ricardo Tagliaferro nasceu em Pindamonhangaba (São Paulo), em 1992. Amante de fotografia e da produção editorial, publicou os livros "O poeta e o guarda-chuva", "100 cartas de uma saudade" e "18 anos de solidão". Participou de antologias poéticas no Brasil e em Portugal, além de participar como autor e organizador das coletâneas de poesias "Depois das 11" e "Café e Prosa". Desconcertos é sua estréia no gênero contos.






Trecho do livro:

Sentou-se por alguns minutos embaixo do chuveiro e pensou em como pedir perdão à noiva por ter sido tão mesquinho, em como dizer à irmã que não poderia dar carona a ela no dia seguinte porque seu trabalho ficava do lado oposto da cidade, em como pediria pacientemente aos sobrinhos que parassem de correr e gritar porque aquilo de fato o irritava tanto como ao seu pai, ainda mais após um dia cansativo de trabalho, em como diria a sua mãe que parasse de reclamar e que, já estava tão cansada, que parasse de fazer o que cansa, e ao pai que pensasse duas vezes antes de pedir silêncio às crianças de forma rude, pois, quando elas crescessem, dariam a ele tão pouca atenção, que ele se sentiria abandonado e solitário. Por fim, pensou no susto que tomou no caminho de volta para casa”.

O livro pode ser adquirido através da fanpage do autor:

Fonte:


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