Por Andreia Marques
Para a maioria dos autores do nosso país, ser publicado por uma editora tradicional é o máximo da realização de uma carreira literária. Mesmo porque, muitos costumam torcer o nariz para editoras prestadoras de serviço e, mais ainda, para a autopublicação.
Antes de tudo, é importante saber a diferença entre a editora tradicional, a editora prestadora de serviço e a autopublicação.
Na editora tradicional, o autor assina um contrato onde fica definido que o mesmo receberá uma porcentagem do preço de capa, que é o valor final de cada exemplar vendido. Todos os custos, desde a preparação do texto até a distribuição da obra, ficam sob a responsabilidade da editora. Esse é, certamente, o caminho menos laborioso para o autor. Entretanto, o mais difícil para os iniciantes, pois, a aposta das grandes editoras em novos nomes, infelizmente, é bem limitada. Depende de uma série de fatores além da qualidade de uma obra, como, por exemplo, a audiência (número de seguidores) do autor em suas redes sociais.
Na editora prestadora de serviço, geralmente, o autor banca uma quantia referente a todos os processos envolvidos na produção do livro e à tiragem inicial (tudo definido em contrato). Assim, é possível conseguir o livro impresso com o selo da editora, que fica responsável pela preparação da obra, diagramação, projeto gráfico, revisão de provas, impressão do livro e venda dos exemplares pós lançamento. Ou seja, o autor contará com todo o conhecimento editorial da publicadora e não precisará ter nenhum conhecimento aprofundado para lançar sua obra.
Na autopublicação, o autor é inteiramente responsável por todo o processo, desde a preparação dos originais, revisão, edição, capa, até a comercialização do livro. Algumas empresas como Amazon, Ubook e Uiclap possibilitam a venda e distribuição em suas plataformas, mas, ainda assim, o autor precisará ter conhecimento de todas as etapas da produção de uma obra para que o resultado seja um livro profissional publicado nessas plataformas.
Assim, embora a editora tradicional pareça o único caminho para o sucesso, o que uma boa parte dos autores desconhece é que muitos escritores famosos tiveram que arregaçar as mangas e tirar dinheiro do próprio bolso — ou contar com as economias dos familiares e amigos — para publicar a primeira obra. Uma grande prova de perseverança e fé em si mesmo.
Vamos a alguns exemplos.
O irlandês George Bernard Shaw, autor de “Pigmaleão”, precisou ser financiado por sua mãe, no início de sua carreira como escritor. O mais interessante é que Shaw recebeu o Nobel, posteriormente, em 1925, e o recusou, afirmando que já era rico o suficiente. No entanto, veio a aceitar o prêmio, a pedido de sua mulher, mas solicitou que o valor em dinheiro fosse dedicado ao financiamento de traduções de livros de sua língua para o inglês.
O romancista francês Marcel Proust foi recusado por várias editoras e publicou o romance “Em Busca do Tempo Perdido”, por conta própria. Atualmente, a obra é considera uma das maiores criações da literatura mundial.
O poeta brasileiro Carlos Drummond de Andrade financiou, ele mesmo, a publicação do seu primeiro livro, "Alguma Poesia", com tiragem inicial de 500 exemplares.
Foi com suas últimas economias que o escritor colombiano Gabriel Garcia Márquez publicou sua obra-prima "Cem Anos de Solidão".
O poeta chileno Pablo Neruda só conseguiu publicar seu primeiro livro, "Crepusculário", depois de vender todos os seus bens para financiá-lo.
O historiador paulista, Mário de Andrade, precisou pagar pela publicação de "Macunaíma", um dos maiores clássicos da literatura brasileira.
José de Alencar, dramaturgo cearense, autopublicou "Iracema, a virgem dos lábios de mel", outro belíssimo clássico da nossa literatura.
"Os Sertões", do jornalista cantagalense Euclides da Cunha, foi publicado pela Livraria Laemmert, com os custos da primeira edição bancados por dois meses de salário do próprio autor.
O escritor paulista Monteiro Lobato publicou seu primeiro livro, "O Saci-Pererê: Resultado de um Inquérito" mantendo os custos da edição com o espaço publicitário que o autor inseriu nas páginas do seu livro. Algo muito a frente do seu tempo.
Contra fatos, não há argumentos. Romancistas, ensaístas, poetas e dramaturgos de todo o mundo, em qualquer época, enfrentaram — e continuam enfrentando — inúmeras dificuldades para publicar seus primeiros exemplares. Mediante esse cenário, a princípio assustador, enquanto alguns acabam por desistir, outros se lançam da forma que podem, seja pela editora prestadora de serviço ou pela autopublicação.
É importante lembrar que o sucesso, em qualquer carreira, não acontece de modo linear. É composto de altos e baixos. Com perseverança, fé em si mesmo e na própria escrita, é possível planejar um roteiro realista capaz de levar à concretização do sonho de se tornar um escritor.
Autoria
Andreia Marques, fundadora da editora Panóplia, é psicanalista, filósofa, escritora, poetisa, mediadora de leitura, blogueira e designer. Publicou oito livros infantis, organizou e participou de diversas antologias. Nasceu no Rio de Janeiro, em 1978 e foi durante a infância que se encantou por literatura e fantasia, escrevendo sua primeira história aos dez anos, através de uma atividade escolar. Mais tarde, vindo a trabalhar como designer, encontrou no mundo das imagens uma outra forma de contar histórias e começou a produzir literatura infantil.
Instagram: @andreia.marques.autora
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