Disse a Rosa ao Pequeno Príncipe: "É preciso que eu suporte duas ou três larvas se quiser conhecer as borboletas." Essa bela sentença, escrita pelo autor francês Saint-Exupéry, é uma declaração incontestável, uma máxima absoluta de que toda mudança é precedida por um processo, muitas vezes incômodo, mas que é possível passar pelas experiências mais dolorosas e, ainda sim, alcançar bons resultados, seja através do aprendizado, seja através da recompensa.
De fato, nenhuma figura se faz mais adequada à analogia da transmutação que a borboleta, símbolo máximo de metamorfose, que possui muitos outros significados. Para a psicanálise, por exemplo, simboliza o renascimento, representado pelas suas asas. Já na mitologia grega tem o valor da imortalidade, visto que, para os gregos antigos, a personificação da alma era representada por uma mulher com asas de borboleta.
O livro Lagarta Crisálida Borboleta, de Ana Cristina Rosito, editora Autografia, nos convida a refletir sobre as transformações que nos acontecem ao longo da vida. Dividido em três capítulos, apresenta uma série de poemas que retratam as várias fases da vida, nos apontando que muitos de nós podemos estar, ainda, na fase de lagarta, e que se faz necessário passar pelo estágio de crisálida para alcançarmos, um dia, a condição de borboletas.
Somos criaturas que, apesar de singulares, trazemos em comum, na essência, esse constante devir. O que nos faz, mesmo na condição de borboleta, iniciarmos outros processos e novos desafios, que nos tornam, todos os dias, indivíduos diferentes do que originalmente já fomos. Pois, assim como disse o filósofo Heráclito de Éfeso, "Ninguém pode entrar duas vezes no mesmo rio, pois quando nele se entra novamente, não se encontra as mesmas águas, e o próprio ser já se modificou."
Sobre a autora:
Ana Cristina Rosito é integrante do NEMP (Núcleo de Estudos Morfossemânticos do Português) pela UFRJ, membro da Acleve (Academia Leonnardo Venthunno) e professora de Língua Portuguesa no Ensino Médio na Rede Estadual do Rio de Janeiro. Escreveu, também, os livros Dimensões (2008) e Dandara e as Vaquinhas (2018).
Trecho do livro:
"Apenas vá embora
Sem demora
Eu quero recomeçar
Bem longe da tua presença
Não suporto mais desavença
A vida é pra quem sabe amar."